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Cooperação
Craft & Art

Resgatar o artesanato do perigo do desaparecimento, tornando-o num produto mais competitivo, nunca foi um desafio simples. Valorizar as artes locais, por exemplo, introduzindo-lhes contemporaneidade ou, simplesmente, munindo os artesãos das ferramentas necessárias para a promoção dos seus trabalhos, é uma tarefa complexa, que exige o esforço coordenado de muitos. Ainda que difícil, a missão foi assumida por várias associações da Macaronésia. A GRATER liderou o grupo.

O projeto “Craft & Art”, que envolveu o CRAA – Centro Regional de apoio ao Artesanato dos Açores, a ADELIAÇOR – Associação para o Desenvolvimento Local de Ilhas dos Açores, o IVBAM – Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, a FEDAC – Fundação para a Etnografia e Desenvolvimento do Artesanato das Canárias e o CNAD – Centro Nacional de Artesanato e Design de Cabo Verde, arrancou em 2017. Tratou-se de um projeto de cooperação transnacional e transfronteiriça, ao abrigo do INTERREG MAC 2014/2020, com um investimento total de cerca de um milhão de euros, comparticipado a 85% pelo FEDER. Eram muitas as metas da iniciativa, que cabiam, essencialmente, nesta: oferecer ao artesanato uma nova abordagem formativa, baseada nas novas tecnologias e com especial enfoque nas componentes de produção, no empreendedorismo, no design, na inovação e no marketing.

Tratou-se, enfim, de um projeto multidisciplinar, com várias fases e ações, que colocou a tónica não só na fase final da conceção e venda dos produtos, mas também na produção das matérias-primas. Por isso, primeiro, o “Craft & Art” avançou com a realização de um diagnóstico para identificar os materiais em causa, as explorações agrícolas e áreas afetas à sua produção. Depois, passou-se ao reconhecimento dos mercados e dos circuitos de comercialização.

Havia ainda o objetivo de dotar as pequenas e médias empresas com conhecimentos técnicos específicos de artesanato, através do desenvolvimento de oficinas que, depois do diagnóstico relativo às matérias-primas, se mostrassem com potencial económico. Por outro lado, pretendia-se que os negócios regionais fossem dotados de conhecimentos mais abrangentes na área comercial e de gestão, pelo que foram organizadas e ministradas formações e workshops relacionados com a inovação, o design e a gestão empresarial.

O percurso foi trilhado e, a par de todo esse trabalho de preparação, um conjunto de residências criativas e de intercâmbios entre os territórios da parceria potenciou a troca de saberes e de técnicas, permitindo criar as bases para avançar para novos produtos ou para a refuncionalização dos existentes.

A primeira reunião do projeto, que contou com um representante de cada território parceiro, aconteceu a seis de abril de 2017 na Sala dos Canhões da Pousada de São Sebastião. Na sessão de abertura, Guido Teles, então presidente do conselho de administração da GRATER, sublinhou, precisamente, aquele que era o ponto de partida da iniciativa: a missão de garantir a preservação da identidade cultural dos arquipélagos da Macaronésia através da produção de objetos que se identificam com as tradições de cada uma das ilhas – introduzindo, ao mesmo tempo, inovação no processo e abrindo canais de comercialização – apresentava desafios comuns às diferentes regiões e havia que superá-los.

“A estrutura produtiva artesanal dos nossos territórios é constituída por empresas de pequenas dimensões, grande parte delas com um incipiente grau de inovação. Para além disso, existe uma clara dificuldade na transmissão dos conhecimentos e das técnicas artesanais a novos promotores e um tendencial envelhecimento dos artesãos em atividade. Acresce que a descontinuidade dos nossos territórios, todos eles insulares, dificulta consideravelmente o estabelecimento de circuitos de comercialização, onerando o escoamento dos nossos produtos artesanais”, considerava.

Para ultrapassar essas dificuldades, as associações desdobraram-se em iniciativas voltadas, essencialmente, para a formação, para o encontro de ideias e para a necessidade de oferecer ao artesanato local uma nova perspetiva. De 23 de outubro a cinco de novembro desse ano, por exemplo, três artesãos da ilha Terceira – Francisco Pereira, José e Susana Almeida – participaram na residência criativa de embutidos em madeira, orientada pela designer Susana António. Esse encontro deu frutos: uma coleção de peças inspiradas no alfenim e no bordado branco.

“As vivências destes criadores são importantes e foi nesse sentido que surgiu a ideia de apostar no alfenim e no bordado branco como motivos de desenho. Ambos, assim como a iconografia da ilha, foram focos de inspiração. A Susana António faz um trabalho incrível na inovação do produto, porque o respeita. Não é um trabalho em que o designer impõe a sua ideia – há sempre uma articulação e um respeito enorme pelo trabalho dos artesãos. E o resultado é feliz e genuíno; não é conceptual e desligado da realidade. É isso que queremos trazer para cá”, dizia Sofia Medeiros, diretora dos serviços do Centro Regional de Artesanato dos Açores (CRAA), organização que, com o apoio logístico da Associação de Desenvolvimento Regional, foi responsável pela residência criativa em causa.

Nesses meses, a GRATER organizou ainda formações em Excel Básico, Princípios Básicos da Gestão Empresarial, Técnicas de Marketing, Redes Sociais e Vendas Online. As formações contaram com a participação dos artesãos das duas ilhas que integram o território de ação da Associação de Desenvolvimento Regional, Terceira e Graciosa.

No ano seguinte, as formações prosseguiram. Guida Fonseca, tecedeira há muito habituada a ministrar workshops em arte têxtil, foi um dos nomes que emprestaram sabedoria a estes encontros. “Apenas uma minoria das pessoas que participaram [no workshop de tecelagem] já tecia, porque o facto é que a tecelagem está a desaparecer na Terceira e tem, neste momento, pouca expressão. Para além disso, os teares não estão nas melhores condições o que dificulta o trabalho. Por isso, estive a falar sobre técnicas e formas diferentes de colocar a teia. No fundo, o objetivo é sempre que as pessoas consigam ter autonomia para prosseguir esta tradição e divulgar aquilo que aprenderam entre os seus pares”, avançava, na altura, a formadora.

Eduarda Vieira pertencia ao grupo das tecedeiras que aprenderam novas técnicas de laboração do tear. “Estou muito agradecida. A Guida Fonseca desmistificou o trabalho em torno dos quatro quadros e isso foi muito importante. O que elas [as formadoras] nos trazem é essa nova forma de olhar aquilo que para nós seria quase banal. Elas olham para o artesanato como um produto de luxo, fazem a ‘reciclagem’ de uma arte que estava quase a desaparecer. Só por isso vale muito a pena”, contava.

Ana Soares, formadora na área dos acessórios de moda, foi outra das presenças nestes workshops. Durante duas semanas, a orientadora da formação falou às artesãs sobre conceitos de moda, sobre o trabalho de pesquisa que antecede o trabalho artesanal naquela área, sobre metodologias e mercados. Às artesãs, a formação em acessórios de moda ofereceu confiança para apostar em produtos mais modernos, procurados pelos locais, mas sobretudo pelos turistas. “Temos de estar sempre atentos ao que se está a fazer nessa área para poder, com os nossos materiais, fazer coisas que estão a usar-se neste momento. O meu objetivo é inovar”, afirmava a participante Aida Barbosa – que foi, mais tarde, orientadora de um workshop de bijuteria feita em corda, em paralelo com Manuela Medeiros, que ensinou técnicas decorativas com palhinha.

A verdade é que estes momentos de encontro de saberes acabaram por ter resultados maiores. Que o diga Eduarda Vieira, que acabou por tornar-se parceira da designer Marita Setas Ferro. A ligação, potenciada pela GRATER através da formação “Inovação & Design”, levou a artesã a trabalhar padrões da tecelagem tradicional que foram depois aplicados numa coleção de sapatos da marca Marita Moreno – trabalho que foi apresentado em dezembro de 2018 no Carrousel des Métiers d’Art et de Création, no Carrousel du Louvre, uma das feiras de artes e ofícios de maior prestígio na região de Paris.

Meses antes, em junho, onze criadores da zona de intervenção da GRATER expuseram os seus trabalhos no Museu de Angra do Heroísmo. Maria do Carmo Soares, Aida Barbosa, Manuela Medeiros, Mariza Quadros, Maria Ataíde, Carla Lobão, Cristina Santos, Arménio Duarte, Paula Sousa, Eduarda Vieira e Sónia Bárbara participaram na exposição “Craft & Art” com obras realizadas no âmbito desse projeto de cooperação, em materiais como escama de peixe, rede, palhinha, couro, madeira, algodão e metal.

Outra residência criativa, aquela que juntou artesãos em Ponta Delgada de 14 a 26 de janeiro de 2019, veio revelar também a importância do trabalho de cooperação nesta área. O encontro pretendeu desenvolver experiências de reforço da interculturalidade, mas sobretudo de criação de novos produtos, com base em recursos naturais, associando a tradição e a inovação e apostando na troca de saberes e de técnicas entre artesãos de dois arquipélagos distintos. A residência, orientada por Kathi Stertzig e Álbio Nascimento através do The Home Project Design Studio, no âmbito projeto “Craft & Art”, contou com a participação de duas artesãs da Terceira: Maria Aurélia Rocha, ceramista, e Manuela Medeiros, especialista na arte do empalhamento.

“Foi importante vermos os trabalhos deles. Conversámos muito e isso é fundamental. Nós às vezes estamos muito fechados na nossa vida e é fundamental aproveitarmos estes encontros para partilhar e para termos outras ideias”, afirmava, na altura, Maria Aurélia Rocha.

O diagnóstico sobre o potencial das matérias-primas, foi transformado em livro, dada a importância do conteúdo.

No tempo de implementação deste projeto, nas reuniões que foram mantendo, todos os parceiros lamentavam o mesmo: a idade avançada dos artesãos, a falta de interesse das camadas mais jovens em apostar nesta atividade e a falta de iniciativas e meios dos criadores para implementarem o que aprendem nas ações de formação. Mas o projeto “Craft & Art” veio mostrar que é possível ultrapassar as dificuldades e inovar. Ficou claro, acima de tudo, que as técnicas do artesanato tradicional, aliadas ao design contemporâneo, podem revelar-se produtos de grande potencial económico. Já o interesse social dos encontros entre artesãos está à vista. Há projetos que se mantêm em força.

O evento final do projeto demonstrou essa força.

Craft & Art

Título do Projeto: Capacitar pela inovação
Acrónimo: Craft & Art
Código: MAC/2.3d/057
Investimento elegível: 74.612,98€
Despesa pública: 63.421,04€
Videos
Rostos do mundo rural Francisco Pereira
Rostos do mundo rural Paula Sousa
Evento "Os desígnios do artesanato"
Galeria
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